ZILA DA COSTA MAMEDE - Capítulo 1




 Ana Cristina Cavalcanti Tinôco

Sol a pino, suor pingando do rosto encharcando a camisa amarelada pela poeira barrenta das estradas de Nova Palmeira, deixando a pele gosmenta ao se misturar úmida por toda extensão do corpo exposto ao tempo. Assim seguia Josafá Gomes da Costa Mamede pelos caminhos do sertão da Paraíba, levando sua mercadoria diversificada para ser vendida entre os sítios e as fazendas distantes da cidade. Entre as múltiplas quinquilharias de mascate (panelas, temperos, ervas, cordas, lamparinas, objetos de decoração, tecidos, alpercatas...) arrumadas em cacuás, nos lombos dos jumentos, sabia que constava algo muito mais precioso: os tecidos que ele encomendara de Recife para mostrar a uma bela jovem que se tornara imagem recorrente em seus pensamentos. Era ela a responsável pelas suas noites insones, olhares vagos e suspiros profundos. Sim, naquela rota ele a encontraria e mostraria com todo o seu entusiasmo e alegria os cinco cortes de tecidos variados que tinham acabado de chegar. E certamente ela escolheria um ou dois; talvez três, quem sabe? Quiçá lhe diria que iria pensar em ficar com mais alguns ou talvez até trocar pelo não escolhido na próxima visita. Isso era tudo que ele mais gostaria de poder ouvir. Afinal, não seria mesmo pela quantidade de cortes que ele iria ficar feliz em vender. Mas, sim pela sua freguesa. Vê-la, conversar com ela alguns dedos de prosa, tomar a água fresca da quartinha sempre oferecida depois da rapadura com o café coado... ah, isso sim era o mais precioso naquela viagem.
Assim nasceu a paixão entre Josafá e Elydia Bizerra de Medeiros. Ela com 20 anos. Ele com 22. Ele mascate. Ela costureira. Paixão essa que, depois de muitos cortes comprados, olhares trocados, namoro aprovado, noivado oficializado, foi abençoada pela Igreja no dia 14 de janeiro de 1925. Três anos depois nasce Zila, terceira filha de uma prole de oito filhos, sendo a segunda irmã de outros que viriam depois.
E entre poeira, costuras, suor, macambiras e palmas, gados e roçados, brincadeiras e peraltices de criança do sertão cresceu a menina Zila vendo outros irmãos chegarem; testemunhando a luta da mãe na máquina de costura para alimentar a família numerosa; sofrendo com a ausência do pai que passara a trabalhar em outra cidade como técnico de manutenção de máquinas desencaroçadoras de algodão. Não imaginava, em sua inocência de menina rural a correr pelas campinas verdes das tardes de inverno, a tomar banho nas bicas abundantes e refrescantes das casas, durante as grossas chuvas, a luminosa trajetória que sua estrela iria traçar para ela no mapa da sua existência.
                                                      

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